amores expresos, blog da CECÍLIA

quinta-feira, 7 de junho de 2007

A montanha mágica

Surtei legal. Perdi completamente a noção do tempo. Andando pelo apartamento e falando sozinho. Altos papos com os personagens. Alucinações, também. Vozes. Ou talvez eu estivesse dormindo e sonhando e achasse que estivesse acordado, sei lá. Aí eu liguei pro doutor Walter. E ele me proibiu de trabalhar ao computador por, pelo menos, três dias. "Pode entrar, ler as notícias, ver pornografia, atualizar os blogs, mas nada de trabalhar no romance. E, mesmo que for ligar o PC pra ver essas coisas, te proíbo de ficar mais do que duas horas com a cara grudada na tela. Sacou?" Saquei, doutor. Saquei.

Isso foi agora há pouco. Entendi direitinho. Três dias sem trampar no romance aqui nesse troço. A minha saúde e coisa e tal. A minha sanidade e coisa e tal. Daí que não me restou outra alternativa: se o médico me proibiu de passar horas e horas escrevendo e reescrevendo e revisando o meu romance na frente desse computador, se o médico me proibiu até mesmo de ficar na frente desse computador por mais de duas horas diárias nos próximos três dias (pelo menos), bem, eu não tive escolha e, sim, fui obrigado a imprimir as 158 páginas do meu livro pra poder trabalhar nele logo ali, sentado à mesa da sala. Bem longe do computador, do jeito que o médico mandou. Minha montanha mágica particular não tem Setembrini, mas é de madeira vagabunda, tem quatro cadeiras, a luz é boa e, de vez em quando, eu olho o Aeroparque pela janela, iluminadão. Eu moro na Park Avenue de Paranaguá, afinal de contas. E desde as quinze horas eu não escuto vozes.