amores expresos, blog da CECÍLIA

domingo, 13 de maio de 2007

Esta empresa não é optante do SIMPLES

Umas revistas sobre a mesinha de centro, um jogo de sofás, o balcão, parece mesmo o hall de um hotel pequeno, aconchegante, de cidade interiorana. O dono pediu: Não quero o meu nome em lugar nenhum, não pode filmar e não pode divulgar o endereço completo. O lugar é um puteiro ou, mais propriamente, um motelzinho. Alunos de cursinhos da região eventualmente matam aulas e vão pra lá. Discrição é tudo. Vasculho as paredes e não enxergo nenhuma moldura com aquele documentozinho que diz "Esta empresa é optante do SIMPLES". As putas ficam pelas ruas e esquinas e algumas, pela conversa do dono, ficam ali dentro. Usam o espaço pra descansar e, claro, pra trabalhar. O dono se recusa a falar da própria vida e eu não insisto. Fica é tentando me convencer a engatar um programa. Diz: Tem ruiva, tem morena, tem loira, tem crioula, tem japa, tem de tudo. Tem até uma anã se você quiser, chefe. Quase peço pra ele chamar a anã, pela cara dele não dá pra sacar se fala sério ou o quê. Quando vou embora sem comer ninguém, a decepção dele é quase palpável. Fui com a tua cara, diz. Se quiser voltar pra fazer uma seleção de pessoal, tô às ordens, chefe. Beleza, respondo. Não vou esquecer. Quando saio e piso na calçada, um grupo de três putas está na esquina. Todas elas me encaram e riem e uma delas (não é uma anã) diz: Já? Rimos todos e eu volto pro hotel leve, levíssimo. Quase feliz.