amores expresos, blog da CECÍLIA

segunda-feira, 14 de maio de 2007

Últimas palavras (?)

Ou não. Espero que não. Mas: deixei São Paulo hoje cedo e acabo de chegar em casa. Para ninguém reclamar que não passei por várias das coisas que um paulistano normalmente passa, ontem enfrentei um congestionamento na Marginal Tietê e hoje, vejam só, um belo atraso em Congonhas. Porque tinha chovido e a pista principal está em reformas e não sei mais o quê. Ainda ontem, as brejas derradeiras com André C. no Charme da Augusta, papeando sobre séries de TV e teoria do romance e histórias de famílias. André, que me havia presenteado com "V", de Thomas Pynchon, foi devidamente contemplado com "Eles eram muitos cavalos", de Luiz Ruffato. Por um instante, tive a impressão de que a gente não queria se despedir. Pena que May, depois de ter sido apelidada por mim como Plucky Duck, não estivesse conosco ontem. Vou sentir saudades.

Mais cedo, ontem, uma derradeira caminhada por aquelas redondezas, Consolação, Augusta, Paulista, Bela Cintra, Haddock. Já estava quase chamando esses lugares de "casa". Engraçado como meu estranhamento inicial vinha sendo sistematicamente domesticado. Nesse sentido, e para o bem do meu romance-em-progresso, penso ter vindo embora no momento certo. Talvez, se tivesse de escrevê-lo em São Paulo, ele soasse meio paulistano, o que, claro, não é a minha intenção. Distanciamento, nesses casos, é muito importante. Continuar sendo um estrangeiro. E me apegar às loucas sensações e impressões que me acometeram em diversas oportunidades por lá.

À noite, fomos à feira dos bolivianos, no Bom Retiro. O Bom Retiro é um bairro paulistano onde (dizem - e eu já escrevi isso aqui) os judeus alugam salas comerciais para os coreanos que contratam bolivianos pagando uma miséria. Domingo é tipassim o Independence Day dos bolivianos, que realizam a tal feira e é mesmo bacanérrimo comer saltenhas e ouvir Carmencita Lara, cantora (acho) peruana (acho) venerada por André Carvalho. Mas chegamos tarde demais e a feira já se dissolvera, o que, entretanto, não nos impediu de comer saltenhas mornas em uma das poucas barracas ainda armadas e, animadíssimos, encarar o tal congestionamento na Marginal Tietê.

Exausto, tão exausto que não consegui dormir, mas feliz, uma sensação de "missão cumprida", de que fiz o que devia ter feito e fui onde devia ter ido pra conseguir escrever um livro bacana pra coleção. Em suma, estou pronto, e o que já escrevi, ainda em São Paulo, me agrada bastante e aos amigos membros da confraria LSOAL (Leitores que Sofrem os Originais de André de Leones), que, quando eu piso na bola e escrevo merda, atiram todo tipo de objeto na minha cabeça, incluindo tijolos, exemplares de "A lei do triunfo" e umas verdades dolorosamente necessárias.

Enfim, agora é escrever pra valer. Fim da viagem, início efetivo de outra. Aos que me leram até aqui, os meus sinceros obrigados. Torçam para que eu consiga escrever um troço decente e, sobretudo, se e quando o tal troço for publicado, comprem e leiam. Tenho, é claro, de agradecer ao Cuenca e ao Rodrigo Teixeira por essa coisa toda. O Rodrigo, inclusive e conforme este artigo da Wikipédia, é um cantor de Polka-Rock brasileiro. Eu não sabia disso, Rodrigo. Mas você também não fala nada...

Valeu por tudo, obrigado a todos. Foi e está sendo maravilhoso. Inté.


[P.S. 19/05] - Quando escrevi este post, não sabia se a orientação dos organizadores do projeto seria para continuar ou parar de atualizar o blog. Posteriormente, pensei que seria bacana continuar, inaugurando uma espécie de "diário de criação", mesmo que só interessasse a mim. Os organizadores do projeto, por sua vez, também sugeriram, logo depois, que eu desse seqüência às postagens, e aqui estou.