amores expresos, blog da CECÍLIA

domingo, 6 de maio de 2007

Virada

[SÁBADO, 05/05] - Hein? Três milhões? No duro? E que papo é esse de batalha campal? Esse AQUI. Passei por lá, mas bem antes disso. Uma pena. Mas foi assim: eu, André e João descemos a Augusta e fomos baixar lá no Teatro Municipal. João Bosco dali a uns minutos. A fila dando voltas e mais voltas. O trânsito impossível. Mas achei muito louco ver o centro da cidade, usualmente vazio àquela hora (23:30hs, mais ou menos), lotadíssimo. E a gente ficou comentando como esse tipo de evento (ah, mil desculpas: Virada Cultural) era uma espécie de teste de fogo pra polícia. Porque se aquela multidão resolvesse, sei lá, brincar de Queda da Bastilha, caramba... Passamos pelo Anhangabaú e pelo Teatro e depois fomos a um prédio louquíssimo, casa de um amigo dos meus acompanhantes e onde rolava a festa de aniversário de alguém. Pouca gente, mas nem é disso que eu quero falar. O prédio, antiquíssimo, foi lar de Álvares de Azevedo e set do Castelo Ra-Tim-Bum e de um clipe do Supla (e eu nunca pensei que um dia fosse escrever esses três nomes numa mesma frase). Jonas, um dos moradores, conta que comia uma goiaba na cozinha quando alguém trouxe o Supla e eles apertaram as mãos e o Supla disse: Prazer, Eduardo. O sujeito mora no último andar, e há essa espécie de sacada (o telhado mesmo, na verdade) de onde dá pra enxergar o Viaduto do Chá e o Mosteiro de São Bento e parte do Vale do Anhangabaú e o edifício Martinelli lá no fundo e um monte de outras coisas. Encravado bem ali no meio. E ficamos por uma hora vendo as pessoas chegando pros shows que estavam rolando ou iam rolar no centro da cidade. Casais caminhando calmamente, de mãos dadas, pelo Viaduto do Chá, coisa impensável em, por assim dizer, noites normais. Mas, como escrevi acima, já tinha ido embora quando o pau quebrou. Logo, não posso escrever muito mais do que isso: que o pau quebrou. Bem no meio do show dos Racionais. Com o pai do Supla dizendo que a polícia fez uso exagerado da força. E um tenente da polícia dizendo que, dado o "histórico dos Racionais", os shows dos caras sempre acabam assim e eles, policiais, já estavam preparados porque imaginavam que aquilo fosse mesmo acontecer. Mas, como diria um escritor meu xará: eu não sei. E fico pensando em alguém como eu, de passagem por São Paulo e achando bacanérrimo esse lance de eventos culturais tomando a cidade durante vinte e quatro horas e todo mundo nas ruas, a noite toda, enfim, alguém assim feito eu se vendo obrigado a sair correndo em pânico pelas ruas do centro, morto de medo da polícia e morto de medo dos arruaceiros. Mas é aquela velha história, não? A de que, conforme Millôr Fernandes, a gente sempre pode contar com o ser humano. Fardado ou não. Da Zona Leste ou dos Jardins.

Mas André e eu ficamos no tal prédio louquíssimo até pouco depois de uma da manhã. Descemos e pegamos o metrô na Estação São Bento. Ao Cinesesc para a sessão das duas horas de "Baixio das Bestas", o novo fracasso ético e estético de Cláudio Assis. O público, compreensivelmente, ria nas "horas erradas" porque, ora, o filme, risível, presta-se a esse tipo de coisa. Se eu tivesse quatro anos, talvez ficasse chocado. Se eu tivesse oito anos, talvez ficasse impressionado. Mas só fiquei com preguiça. Lembro de ter rido no meio da sessão, quando aparece um córrego e vemos cavalos (ou jumentos? ou éguas?) sendo lavados. Juro que fiquei esperando a "turminha do mal" do filme entrar em cena e, sabe como é, eles e aqueles animaizinhos quadrúpedes num mesmo quadro e coisa e tal. Pois é. A gente sempre pode contar com o ser humano.