amores expresos, blog da CECÍLIA

sábado, 12 de maio de 2007

Aninha&Denise - Escrevendo

[SEXTA-FEIRA, 11/05] - Não, Ratzie não apareceu. Compreensível. Fiquei lá no Ibotirama, sozinho, com essa minha cara de gordinho apanhão (TM). Mentira. Também não fui lá. Como sei que Ratzie não apareceu? Ora, alguém teria notado se ele aparecesse por lá. Eu acho. E me contado. Eu acho. Mas ontem, com Aninha&Denise, a um bar na Fernando de Albuquerque, entre a Consolação e a Bela Cintra, eu tomando breja e elas lerdando no vinho, quando Paulo Autran entrou e se sentou a uma mesa e, calma, não dei uma de tiete, só reconheci o cara e fiquei imbecilmente feliz por saber que freqüento os mesmos ambientes que ele, sabe?, e daqui a uns dias vou começar a falar "Naquele bar em São Paulo que eu e o Paulo freqüentamos..." e as pessoas vão perguntar "Que Paulo?" e eu vou dizer "Como que Paulo? O Paulo Autran, é óbvio!" porque, sim, eu sou suficientemente idiota pra sair com uma cretinice dessas.

Mas a conversa com Aninha&Denise foi mesmo deliciosa, e falamos montes sobre as mais variadas coisas, desde os romances do menino aqui (o publicado e o que comecei a escrever por esses dias pros Amores Expressos) até a literatura de testemunho de Primo Levi e Elie Wiesel e sobre como Rudolf Hoess era um bastardo psicótico e, principalmente (para mim, já que tem a ver com o tema do meu work in progress), sobre mulheres bi ou homossexuais que, a exemplo de Aninha&Denise, vivem juntas, isto é, são casadas. Interessante ver a coisa agora pelo lado delas, no sentido de que são mulheres maduras (mais de quarenta), contrapondo às minhas outras "entrevistadas" ibotirâmicas & augustinas, todas com menos de 25 anos. Mas uma coisa, pelo que tenho visto e ouvido, é verdade (palavras de André): Lésbicas não namoram, não "ficam", lésbicas se casam. Ou, conforme a piada contada por Aninha: "O que uma lésbica leva no dia seguinte ao primeiro encontro? A mudança. O que um gay leva no dia seguinte ao primeiro encontro? Que dia seguinte?...".

O mais engraçado, contudo, foi mesmo a coincidência. Porque eu só conhecia a Aninha virtualmente, algumas trocas de e-mails, apenas, e não sabia que ela era homossexual (bi, para ser exato) e muito menos que ela era casada com outra mulher. E, ora, estou escrevendo exatamente sobre isso. Daí que a conversa não poderia ter sido mais elucidativa, instigante, engraçada, prazerosa e não sei mais o quê. Pirei legal absorvendo todas aquelas informações e depois ainda dei uma sapeada pela vizinhança, colocando nomes e pronomes em seus mais ou menos devidos lugares, pensando onde encaixar o quê, escrevendo, em suma, e, caramba, fodam-se as supostas limitações de tempo (ainda 62 dias) e de espaço geográfico (São Paulo, mas: pra que mais?) e de tema (love is suicide) porque a coisa começou sua inexorável descida ladeira abaixo e eu estou mesmo concentradérrimo, animadíssimo e meio louco, sabe?, piradão.

Vou embora em 48 horas. Essa cidade inapreensível, plural, desorientadora, desgraçadamente humana, ostensivamente artificial e ametafísica (existe isso?) merece o melhor livro que eu conseguir escrever. Pai, em tuas mãozonas parkinsonianas entrego as minhas vísceras.