amores expresos, blog da CECÍLIA

domingo, 29 de abril de 2007

André - Manabu - Bouvier




[SEXTA-FEIRA, 27/04] - Conheci André Carvalho pela internet. Ele lia o meu finado blog Canis sapiens e um dia me mandou um e-mail bacaníssimo. Dizer que a gente começou a se corresponder seria exagero, porque o André tem uma certa fobia de e-mails por causa de um trampo que ele tinha e que eu nem sei direito o que era. Acho que era isso, responder e-mails. Daí ele tomou horror pela coisa e tem uma certa dificuldade com esses troços. Mas trocamos alguns nos últimos, sei lá, dois anos. Quando surgiu a oportunidade de eu vir pra São Paulo, ele foi a primeira pessoa que pensei em contatar e tal. Mas ele não apareceu na minha primeira semana aqui. Nem sinal do cara. Aí um dia ele me liga e diz: E aí? Já sentiu a solidão da cidade e tal? E eu pensei: Sacana. Porque eu já tinha sentido, sim. Na primeira semana aqui, eu até já escrevi isso, fiquei travadíssimo, sem saber pra onde ir e passando muito tempo preso no flat. Então, há uma semana o André fez contato e a gente saiu, juntamente com a May, pro Ibotirama. Mas já contei isso também.

E então fui à casa dele na sexta passada. A Dheyne chegou de Goiânia e nos encontramos todos na esquina da Paulista com a Augusta, no Conjunto Nacional. Eu não via a Dheyne há alguns meses, a gente se abraçou e eu a levei pra almoçar ali perto, no Shopping 3. Tinha saído de Goiânia às 22 horas da noite anterior e chegado a São Paulo num autêntico dia paulistano, chuvoso e quase intransitável. Um autêntico dia paulistano pra vocês, goianos, alguém me disse, acho que o André. Dheyne almoçou e fomos todos (tinha também uns amigos do André, incluindo um sujeito de uma banda de Curitiba que ia tocar naquela noite, numa boate ou coisa parecida na Vila Madalena) pro apartamento do André. Perdizes, rua Franco da Rocha. Pegamos um ônibus lotado, mas lotado mesmo, e fizemos o trajeto, curto, em quase meia hora. O trânsito aquele horror. O clima aquele horror maravilhoso. Descemos na Sumaré e subimos a Franco da Rocha e logo estávamos no apê do André. Aceitei uma Heineken e ficamos papeando e eu olhando os livros dele. Conforme tinha prometido, André me deu um exemplar de "V", de Thomas Pynchon. Quase chorei. Exagero. Mas foi bacana. Muito mesmo. Fiquei por lá um tempo, mais umas cervejas, metendo a câmera na cara dos outros (sorry, vem com o pacote), e falamos de erros de tradução, escritores curitibanos, bandas, baladas, o trabalho do André, o meu trabalho e gatos. Fui embora feliz, debaixo de chuva, depois de confirmada a ida à feira da Liberdade hoje, domingo.

[SÁBADO, 28/04] - Pinacoteca. Já fui ao Museu da Língua Portuguesa do outro lado da rua no meio da semana. A julgar pelo tamanho da fila, quase dando a volta na Estação da Luz, acho que escolhi o dia certo pra ter com Clarice Lispector. Então, à Pinacoteca. Fiquei umas três horas por lá olhando as obras e as pessoas. Especialmente as pessoas. Um sujeito diante de uma tela de Manabu Mabe. Ficou lá uns dez minutos. A tela é realmente lindíssima. Não é a que ilustra esta postagem (esta é "Contemplação", de 1968), não consegui encontrá-la pra jogar aqui. Eu nunca tinha estado diante de uma tela de Manabu Mabe. E o sujeito, braços cruzados, não se movia. Parei ao lado dele. Uma mulher, talvez a esposa, chegou e parou logo atrás. Perguntou pra ele: O que isso te diz? Ele, sem se virar, meio-sorriso na cara, respondeu no ato: E por que tem que me dizer alguma coisa?

Nicolas Bouvier. "O olhar do viajante". Fotos lindíssimas de uma viagem que Bouvier, escritor suíço, empreendeu entre 1953 e 1955, saindo de Genebra e chegando ao Ceilão. Trechos de escritos dele, também. Não me lembro das palavras exatas, mas um desses trechos diz que você não faz a viagem, mas é a viagem é que faz ou desfaz você. Abaixo, uma das fotos da exposição: