amores expresos, blog da CECÍLIA

sexta-feira, 27 de abril de 2007

Dor - Dheyne - Cidade invisível

[QUINTA-FEIRA, 26/04] - Ontem, mal consegui sair. Fazer alguma coisa, ir a algum lugar. Tinha combinado ir com o Chico Mattoso a algum lugar saudavelmente bizarro, mas não deu. Uma notícia terrível recebida de uma maneira terrível, por e-mail, e depois confirmada por telefone. Uma ex-sogra, senhora já de idade, assassinada por assaltantes em sua própria casa. Um tiro na nuca. Morava na fazenda com o esposo, também de idade, no interior de Goiás. Levaram quinquilharias, coisas de valor quase nulo. E, no entanto, levaram o que havia de mais valioso por lá. Levaram a vida dela. Me escondi num cinema da Paulista. Duas sessões. Mas não me lembro do que vi.

[SEXTA-FEIRA, 27/04] - Hoje, Dheyne chega de Goiânia. Vai me ajudar a ficar de pé. Vem pro feriado e vai ficar hospedada na casa do outro André. A ida à Liberdade que o André me prometeu. Agora iremos os três. No domingo. Antes, o que nos vier à cabeça. Melhor não ficar planejando nada de antemão porque a cidade sempre me leva pra outro lugar. Falando nisso (em São Paulo), comecei a ler o livro de Bernardo Carvalho, "O sol se põe em São Paulo". Provavelmente não terei tempo de engatar a leitura pra valer por esses dias e tal, mas, logo nas primeiras páginas, ele desenvolve umas idéias muito interessantes sobre a cidade. Como se ela quisesse ser um monte de coisas que não é. Não sei se sinto ou penso assim. Na verdade, essa cidade nunca vai caber inteira na minha cabeça. Acho que, quando pensar em São Paulo daqui pra frente, vou pensar num monte de cidades distintas e muitas vezes irreconciliáveis.

Chuva. Tive que parar pra olhar. A Paulista debaixo de chuva, e os paulistanos. Não aquela chuva prometida por DeNiro em "Taxi Driver", nada daquilo. Uma chuva franca num dia claro. Nublado, meio cinzento, mas claro. E eu procurando São Paulo em toda parte e a cidade parecendo nunca estar onde fixo o olhar. Como o sertão de Rosa, me cercando sem que eu perceba. Uma autêntica cidade invisível, talvez. Sendo o que não é sem que isso seja bom ou ruim. Ou não. Talvez seja exatamente o que há de mais louco em São Paulo, a capacidade de ser inúmeras cidades e, ao mesmo tempo, cidade alguma. Tô viajando muito? Bacana. Recebo pra isso.