amores expresos, blog da CECÍLIA

sexta-feira, 27 de abril de 2007

Primeira semana

Primeira semana complicada. Ou difícil. Seilá. Vendo a cidade da janelinha do avião, sabe? Mesmo já tendo estado aqui antes, mas não com essa "obrigação" de apreendê-la, e pensando: grandimensa, né? Uma perplexidade saudável. Os primeiros cinco dias nas redondezas do flat. Não que seja ruim, porque nas redondezas do flat estão a Paulista, a Augusta e a Consolação. Eu ainda não me perdi, entretanto. Mas tenho tentado. Juro que tenho.

Tem um bar na Augusta que dá pra outro bar dentro daquele bar. Ou talvez eu tenha confundido tudo. De qualquer forma, eu fui entrando sozinho e ninguém olhava pra mim enquanto eu entrava e daí eu pensei: São Paulo é isso. Não é? Ninguém olhar pra você enquanto você entra. Ou sai. Ou fica parado. Lugar-comum, eu sei. Mas isto é um blog. Num blog você despeja os lugares-comuns pra, depois, não fazê-lo num livro. Eu acho. Não que eu esteja me desculpando. Mas ontem (segunda) à tarde tinha essa moça caída quase na esquina da Bela Cintra com a Paulista. Bem na porta de uma farmácia grande que tem ali. Ela tava lá, caída, mas, não, ninguém parou pra ver qual era. Eu não parei. Eu também não parei. Porque antes que eu chegasse à outra calçada ela se levantou e saiu andando Bela Cintra abaixo. Ajeitando os cabelos. Mas o lance não é sequer que ninguém ajudava a moça, sabe? O lance é que ninguém nem mesmo olhava.

No domingo, o André, um amigo, e a May, uma amiga, me levaram ao Ibotirama, também ali na Augusta. O André me disse que o bar estava meio que se tornando um reduto de lésbicas. Olhei em volta e pensei que ele estava exagerando. Tinha muitas lésbicas, mas, pôxa, em qualquer bar ali da região (eu acho, ou tenho notado) tem muitas lésbicas. Daí que eu pensei em escrever uma novela protagonizada por um casal de lésbicas. Escrever sobre uma coisa que eu conheço tão pouco. Falei isso pro André e ele achou bacana e disse que ia me levar à casa dele. Ele mora com duas homossexuais. Eu vou falar com elas, sabe? Ver se aprendo alguma coisa. Ver se aprendo a chamar as coisas pelos nomes certos. E ver se sou mesmo capaz de escrever um troço que seja bacana e verdadeiro. Elas vão me dizer isso, talvez. Sim ou não.

No sábado, fui conhecer a Mercearia São Pedro. Antes, fiquei vadiando pela Vila Madalena e ela me lembrou um pouco o Setor Oeste de Goiânia. As ruas, o estilo dos bares. Árvores. Muitas árvores. Pelo menos nas ruas pelas quais passei. Rodésia. Mas, claro, nenhum bar em Goiânia (ou em qualquer outra cidade que eu conheço) se parece com a Mercearia. O Joca tinha ido à feira na Benedito Calixto e comprado uma vitrola e uns vinis. Colocou Roberto Carlos, depois Tom Waits. Ali mesmo, sobre a mesa. Comprou umas pilhas na Mercearia e ligou a vitrola.

Durante essa primeira semana tentei escrever. E escrevi. Mas aconteceu um troço maravilhoso: a história que eu tinha mais ou menos armada na cabeça, bem, ela foi pro espaço. A cidade fez isso. Eu tinha pensado numas coisas, numa estrutura, num enredozinho, mas bastaram uns poucos dias pra sacar que não ia funcionar. O engraçado é que eu até me filmei, num dos primeiros dias, falando dessa história que eu queria escrever, três vozes narrativas, um troço todo estruturadinho e tal. Dois dias depois, nada feito. Meio patético, claro. Mas dane-se. A cidade me deu outras mil possibilidades narrativas, por assim dizer.

Fui ao centro antigo ontem. Uma cachaça na Maria Paula. A praça João Mendes e uma coisa bem louca: putas e advogados tomando café lado a lado numa lanchonete perto do Fórum. O Joca tinha me falado disso, mas eu precisava ver. Programei começar a conhecer mais os bairros nesta semana. Já marquei uma ida à Liberdade no domingo, pra feira. Tô louco pra ir antes, e pode ser que eu vá. Hoje, vou ao Bixiga. Eu acho. Vou resolver quando estiver indo pra estação do metrô.